sábado, 7 de março de 2009

20º Dia - 18/2 - Isla del Sol (Lago Titicaca)

Hoje não quero falar sobre a logística do dia da viagem. Nem quanto gastamos, nem como chegamos. E em algumas partes vou escrever especialmente em primeira pessoa.

Na noite do dia 14 de janeiro deste ano, não consegui dormir. Era uma mistura de euforia com ansiedade e medo. Eu e o Túlio tínhamos acabado de ter a idéia de fazer esta viagem. Eu, contava na minha cabeça, quantos sonhos realizaria: 6.

- Conhecer mais uma capital do Brasil: Campo Grande
- Conhecer Bonito
- Conhecer o Pantanal
- Conhecer a Bolívia
- Conhecer o Peru
- Conhecer Machu Picchu

Conhecer o Atacama também era um sonho, mas até então nós não sabíamos que íamos...

Dentre eles o mais sonhado era Machu Picchu. Perdi as contas de quantas vezes via folhetos de excursões no mural da UnB para lá. Pensava: será que um dia eu merecerei ir lá?

Eu nunca havia pesquisado nada sobre Machu Picchu. Não sabia o que significava, nem quanto gastar e nem como chegar. Mas sabia que eu queria muito ir e vibrar com a energia do lugar.

Chegamos à Isla del Sol no meio do Lago Titicaca (amanhã eu falo do Lago).

Eram 15h quando nosso barco ancorou na parte norte da ilha e descemos com mochilas e sem rumo.

É, me falaram que seria legal dormir uma noite aqui e conhecer uns nativos...

Estávamos cansados, com muita fome, mas ainda demos algumas risadas ao ver umas vacas matando a sede na praia de água doce.

Depois de achar um albergue e de cativar a garçonete para que ela pudesse falar com a gente, devoramos um bife à milanesa surpreendentemente delicioso. A vida voltava ao nosso corpo.

Ressuscitados, nos equipamos com lanterna, bússola, faca, garrafa d’água e câmeras para caçar o pôr do sol.

Saímos radiantes com nossos apetrechos de exploradores em Lost subindo a nossa montanha.

Eu me sentia feliz. Num pensamento Google Earth, podia ver minha localização no Planeta e todo o trajeto pontilhado até chegar aqui. Estava orgulhosa das nossas aventuras e pensei: não é que essa ilha é legal mesmo?

Abre parênteses. Já ouvi dizer que boas coisas acontecem a boas pessoas. Não que eu me considere uma pessoa exemplar... Aliás, longe disso. Talvez o Túlio seja bom o bastante por nós dois. Fecha parênteses.

Enquanto subíamos pela trilha e tirávamos 428 fotos, encontramos um grupo com um guia local, índio, nascido e vivido na ilha. Um ilhado por natureza.

Educada e espertamente, ele nos convidou a seguir o grupo. Caramba – pensei – esta ilha é mágica! Tem até boliviano bem humorado e solícito! :)

Às vezes não sei se eu agradeço ou amaldiçôo minha ingenuidade...

O que importa é que encontra-lo fez toda a diferença.

Pausa para a descrição da paisagem: Sol dourado e montanhas. Lago azul intenso entre o céu e as montanhas. Montanhas com picos nevados e montanhas verdes-esmeralda. O sol deixava tudo assim... Meio brilhante. Havia barulhos do vento, dos pássaros e de crianças brincando com aviõzinhos. Ahhh! Tinham pedras grandes que abraçavam o nosso caminho. Um riacho que descia a nossa montanha abaixo. E borboletas de todas as cores. E flores!!! Lilás, amarelas, brancas, às vezes roxas com o miolo amarelo-ovo. O vento das plantações de chá segurava pela mão os cheiros de camomila, erva cidreira e hortelã (ou eucalipto).

Eu mostro fotos depois... Mas vocês sentiram a paisagem? Quando vocês fecham os olhos, os seus cabelos se mexem com o vento das camomilas? Se sim, podem dizem que estiveram lá também.

Continuando a caminhada, o guia nos mostrou a pedra sagrada. Era o lugar onde os Incas sacrificavam pessoas que iam contra alguma das suas 3 leis:

- Não mentir

- Não roubar

- Não ser preguiçoso

É estranho, mas tiramos fotos sorrindo lá. Turistões!

O guia fala que não podemos confundir a pedra com a Rocha Sagrada. E mais: é pra lá que nós vamos agora! (Percebo uma agitação no grupo... mas que raios é essa rocha?)

Já demos meia volta na nossa montanha e estamos vendo o outro lado do Lago Titicaca. Deste lado não têm picos nevados ao fundo. E o sol brilha diferente. É como se fosse o lado adulto da ilha.

A nossa trilha já estava coberta pela sombra e eu começava a me preocupar: Será que vai dar tempo de ver o pôr do sol?

Chegamos ao primeiro portal. A partir daqui, os peregrinos, que vinham de todo o Império Inca, retiravam suas sandálias e pediam permissão ao sacerdote para entrar no templo da Rocha Sagrada e levar suas oferendas ao deus Sol. Ninguém podia entrar sem oferendas.

Eu não tirei meu tênis e nem tinha oferendas, mas não me sentia mais turista.

O guia nos contou que era muito difícil conseguir o sim do sacerdote e que haviam mais 6 portais (e, então, mais 6 sacerdotes) até a mesa de oferendas.

Eu praticamente podia rebobinar 500 anos ali e ver os índios abençoados carregando quilos de ouro e prata.

Mudando (mas nem tanto) de assunto. Vocês conhecem a história da Arca de Noé? A Bíblia conta que houve um dilúvio na Terra por 40 dias e 40 noites que encobriu até os mais altos montes do planeta. Noé deveria construir uma arca para abrigar uma espécie de cada ser vivo.

Absolutamente sem contato algum com a religião católica, os Incas acreditavam que depois de um dilúvio de 40 dias e 40 noites, somente a Rocha Sagrada ficou emersa. O que obrigou o deus Sol e o deus Lua a procurarem refúgio em duas crateras nesta rocha. Uma das evidências deste fato seriam as pegadas do Sol rumo à Rocha, gravadas até hoje lá.

Seguimos as pegadas do Sol e encontramos a Rocha Sagrada! Estavam à minha frente os abrigos do Sol e da Lua. Um em cima do outro.

Esta rocha é sagrada também porque a lenda diz que o Império Inca se originou ali, onde Manko Kapac, primeiro Inca, desceu num raio do céu até a rocha.

E é sagrada também porque eles acreditavam que uma das 3 forças que deram origem ao universo está armazenada dentro dela.

Esta foi a hora que tive certeza não ser mais turista, e sim, peregrina.

Uma das 3 forças criadoras de tudo está, no presente, ali dentro.

Em frente à Rocha, está a mesa de oferendas. Procuro alguma riqueza para ofertar. Abri minha caixinha de jóias e só vi uma pedra preciosa: a gratidão. O guia nos diz que quem tocar na Rocha e fizer um pedido, será atendido.

Toquei na Rocha Sagrada e as minhas lágrimas compulsivas foram instantâneas, me lavando por dentro e por fora. Eu não queria pedir nada. NADA. O que eu poderia pedir na vida depois de tantas graças abundantes? Talvez pudesse pedir desculpas por ser um ser humano tão cheio de falhas... Mas para ser humano é preciso ter falhas. Enfim, ofereci a gratidão. Com toda a minha força. Com todo o meu amor. Com todo o meu Ser.

Agradeci tanto que as minhas células vibraram pulsantes cheias de energia e paz.

Eu não merecia estar ali. Tenho plena certeza disso. E foi assim que descobri que não estávamos ali por nossa conta. Alguém ia conosco e tornava tudo mais fácil e colorido. Tudo certo, como se tivesse andando à nossa frente e resolvendo por nós.

“Recite poesias, palavras de um Rei: FAÇA POR ONDE QUE EU TE AJUDAREI.”

:)

quarta-feira, 4 de março de 2009

19º Dia - 17/2 - La Paz - Bolívia

Hoje foi engraçado!

O Túlio queria ver o Chacaltaya. Montanha nevada com mais de 5 mil metros de altura. Uau! Fechamos o passeio por 100 bolivianos cada.

De manhã, prontos pra sair, a agência cancela o passeio. PUTZ! Fomos até lá e conseguimos em outra. Maaaaaaas, o Túlio já tava curtindo a idéia de ir de táxi e foi perguntar quanto era. 50 bolivianos (muito estranho meu caro Watson....). Então tá, agradecemos à agência e decidimos ir por nossa conta que ficaria bem mais barato.

A cidade é um caos total! Pra que semáforo quando se tem uma buzina, não é mesmo minha gente?

É como se fosse uma favela invertida. Estão todos num buraco. A cidade alta é a mais pobre. Na cidade baixa, o centro é classe média e a zona sul são os poderosos magnatas.

Ficamos no centro.

Voltando ao passeio, decidimos voltar a ter dias de reis! Ah como é bom voltar à Bolívia e pagar 5 reais num café da manhã chique! Desayunamos e fomos pegar o táxi pro Chacaltaya.

_ Hola! Cuanto és para el Cerro Chacaltaya?
_ Hola! 400 bolivianos!
_ Ah si....... Gracias!

Oi???? De 50 para 400 bolivianos??? Derrubaram a muralha da China enquanto tomávamos café da manhã!

Outro, e outro, e outro. Todos na mesma! 400, 350, 400 bs!

Muito engraçada a cara do Túlio!

Desistimos e fomos à rua das bruxas! Mas antes disso, conseguimos finalmente convencer um taxista a fazer por 200 bolivianos e não quisemos ir. Mas o Túlio tinha que conseguir! Questão de honra.

A rua das bruxas é bizarra! Elas vendem amuletos, carcaças de sapo, fetos de lhamas, pozinhos estranhos, sóis e luas.

A tarde vimos a parte rica! Um ipod por 700 dólares! Alou??? Sequestraram o Obama agora!!!

Até que achamos a Fair Play, loja de artigos esportivos, onde decidimos contrabandear bolas ao Brasil.

O resultado desta tarde vocês verão na parede do meu quarto (mãe, não se desespere, está tudo sob controle).

IMPORTANTE: tudo que foi escrito neste port é mera brincadeira e zelamos pela ordem e progresso do nosso país, pelo bem estar de Barack Obama e pela plena estabilidade da Grande Muralha.

18º Dia - 16/2 - La Paz - Bolívia

Uau! Depois do Peru, reencaixamos a Bolívia! La Paz, aí vamos nós!

Hoje é dia 16 de fevereiro. Sai o resultado do vestibular às 17h, em Brasília.

Éram 22h30 quando saímos de Arequipa (ontem) a Puno. Chegamos às 5h30 e às 8h fomos à La Paz. No meio do caminho, vimos o Lago Titicaca, mas quando voltarmos eu falo sobre ele.

$: Arequipa - Puno, bus cama, 30 soles;
Puno - La Paz, bus semi cama, 25 soles;
Copacabana (onde paramos para almoçar), cidade exploradora, cobra 1 boliviano para os turistas respirarem seu ar.

Enfim, chegamos em La Paz às 17h, horário local. O hostel é limpo e aconchegante só com o inconveniente de uma escadaria de 3 andares... 50 bolivianos o casal. É na rua Yanacocha e chama-se Señorial. Muy bueno.

Tá, tá, tá! Eu sei que já passou da hora de sair o resultado. Mas a dúvida estava tão confortante...

O Túlio me obrigou a achar uma internet... E eu passei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! \\o//

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA que vontade de gritar!!!!!!

Que alívio. Que felicidade! Que alívio!

Mas nada de bebemorar, porque minha barriga deu sinal de stress e não tá legal... hehehe.

ps: pra quem não sabe, eu estava mudando de curso, e agora, MUDEI!

17º Dia - 15/2 - Arequipa - Peru

Lembram-se de Júlio Cesar? Não o romano (que, por sinal, não foi imperador...). O gaúcho! O conhecemos em Bonito-RS e eles nos trouxe até aqui.

A mudança de roteiro era que íamos a La Paz depois do Atacama, e viemos pra cá. Talvez dê para encaixar La Paz, mas preferimos trocar e encaixar o Peru (desculpem... não aguentei segurar a piadinha...).

Voltando! Nosso novo grupo é formado por um casal de italiaaaaaaaanos, uma japonesa, um casal de peruanos, nós, o motorista e a guia.

Visita aqui e ali... Tira foto... (prometo que posto logo todas as fotos) Mas eu estava mesmo esperando era o cânion!

O Vale do Colca é lindo também! O rio passa lá embaixo e as montanhas ao lado são cortadas para agricultura.

Bucólico!

Nos prometeram ver Condores voando no cânion. O Condor é a maior ave que voa, com 3m de envergadura (de asa a asa) e 1,5m de altura! UAU! Deve ser lindo mesmo, porque o único que vimos era pequeno ainda e fabuloso, mas tristemente preso. Cobravam alguns soles para tirar foto com ele no seu ombro. Triste.

Ao chegar à Cruz del Condor, mirante principal para o cânion, qual não é a nossa surpresa quando está tudo, absolutamente tudo, coberto por uma espessa neblina!

AAAAAAAHHHHHHHHHHH! Que princípio de indignação! Mas, revolta controlada, levei aquele papo esperto com San Pedrino e esperei. Acho que ninguém mais tinha esperança, mas eu esperei.

Sentei na beira da nuvem. Uma tela em branco. Ouvíamos o barulho do rio láááááááááá embaixo. Sabíamos que o maior cânion do mundo estava bem na nossa frente. E só víamos uma grande tela branca.

Pedi de novo. Dessa vez apelei à Nossa boa mãezinha do céu. Ah! Papo de mulher. Sensibilidade. Paisagem bonita. Poxa, dá uma ajudinha a São Pedro?!

Eis que o topo da montanha a nossa frente (acho que há uns 20m) aponta. Foi um alvoroço. E eu sentadinha sorrindo e agradecendo.

Aos poucos o cânion foi descortinando-se para nós. Como uma obra de arte travessa que brinca com a nossa imaginação.

O topo do outro lado tinha neve. Ao fundo, passava mesmo um rio. Um estreito com 2 mil metros de profundidade neste ponto, porque o cânion passa dos 4 mil.

Sensacional!

Júlio Cesar, agradecemos de coração por nos trazer até aqui! =)

terça-feira, 3 de março de 2009

16º Dia - 14/2 - Arequipa - Peru

É só pisar num terminal rodoviário que começa a gritaria: TACNA TACNA TACNA CHOCLO CON QUESO TACNA TACNA!



Neste caso, chegamos em Arica às 7h e o destino era cruzar a fronteira, indo à Tacna-Peru, e depois Arequipa.



Ligamo o modo "desconfie de tudo e de todos" e saímos da enrascada de 18 mil pesos à Arequipa para 4 mil :)



obs: Ônibus fora do terminal por 1,5 mil + Tacna-Arequipa por 2,5 mil (equivalente).



Chegamos à terra do Sol. Já devem ter percebido que eu sou fascinada pelo Sol e toda sua energia, né? Imaginem o que é estar num país onde até a moeda chama-se SOL! UAAAAA!



Cambiamos 1 dólar por 3,2 soles. E 1 sol é mais ou menos 0,8 reais. Ou seja, estamos em casa.

Chegamos em Arequipa às 16h (já me perdi nos fusos... mas acho que são 2h a menos que o Brasil).

O hostel, Mollendo, foi 50 soles nós dois com banheiro privado!

A cidade é encantadora! Me conquistou. Tem uma praça grande, com catedral, cercada por arcos, bancos, fonte no centro, luzes e os enfeites do Dia de San Valentin, traduzindo, Dia dos Namorados!

Só no Brasil que 12 de junho é o dia dos namorados. São Valentin era um bispo cristão que casava os casais apaixonados em segredo, pois o imperador (em 270 dC) havia proíbido o casamento alegando que soldados solteiros eram mais focados e dedicados.

Dia 14 de fevereiro foi o dia em que São Valentin foi assassinado. Séculos depois, a Igreja ressucita essa história e estabelece que esse dia é o dia dos amantes (para acabar com os ritos de adoração ao deus do amor).

Já no Brasil, 14 de fevereiro é muito perto do carnaval e as pessoas estão sem dinheiro. Maio, dia das mães. Agosto, dia dos pais. Outubro, dia das crianças. Dezembro, natal.

É, sobrou tentar Junho pro dia dos namorados e ver se cola. E não é que deu certo? Esse é o segundo dia de maior faturamento das lojas, precedido apenas pelo dia do nascimento de Cristo, claro, em que as lojas de bebês devem lucrar horrores......... Viva o capitalismo e todo o seu simbolismo!

Enfim... trocamos bolos e frapês para comemorar e ainda ganhei uma rosa e um balão!

ps: Vamos acordar às 2h da manhã para fazer o passeio do Cañon del Colca, maior cânion do mundo ($: 70 soles por pessoa com café da manhã, traslado e guia).

15º Dia - 13/2 - San Pedro de Atacama

Manchete do dia: Turistas brasileiros capotam... na cama!

Pense em duas pessoas esgotadas. Pensem em nós dois sem nem pilha reserva. Tudo se foi.

Hoje, graças ao bom Senhor, fizemos nada! :)

Dia default... Acordar tarde, almoçar, ir a museus, jogar baralho na pracinha, comer de novo e pé na estrada.

Hoje saímos à Arica, fronteira norte do Chile com Peru (bus semi-cama por 27 dólares, pela TurBus).

Acharam que o post ía terminar sem grandes emoções? Enganaram-se!

Não estou falando da indignação com os espanhóis que o Museu Arqueológico implantou em nós. Um povo inteiro dizimado pela soberba européia. Mas isso é assunto para mais tarde...

O grand finale foi no ônibus à Calama (conexão para Arica).

Saímos às 19h30 da estação e, por arranjo divino (não tenho dúvidas), nossos lugares eram do lado que contemplava o pôr do sol.

Se o de ontem foi fantástico, este foi _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ !!!

Foram quase 2h do pores do sol.

O primeiro, estávamos embaixo e pudemos ver as paisagens mudando ao mesmo tempo que o sol descia.

O segundo (sim, vimos dois no mesmo dia), havíamos subido tanto que de repente o sol voltou! Levei um susto! Corre corre pra pegar a máquina de novo e nesse momento o meu coração esqueceu de bater.

A única coisa que me vinha à mente era "obrigada Senhor por me proporcionar tamanha alegria".

Foi o pôr do sol mais magnífico que já vi em toda a minha vida!

É claro que chorei. Todo mundo viu. Mas chorei.

14º Dia - 12/2 - Bolívia/Chile

Bom dia flor do dia!

Acordamos muito bem humorados às 4h30 da manhã para continuar apreciando a humildade das paisagens.

Dessa vez o alvo não eram vulcões, eram gêiseres!

Apesar de fascinantes, parecem uma janelinha para o inferno. Lagos borbulhantes de lama e enxofre, jatos de água e vapor, neblina e fumaça que vinham debaixo dos nossos pés.

Se não fosse o nascer do sol e a sensação inexplicável de presenciar a força do interior da Terra, poderia jurar (ou prometer) que era um filme de terror.

A paisagem muda às 6h30, quando chegamos às piscinas naturais de águas termais. Aqui sim! Paraíso perfeito.

O sol já havia nascido e refletia um brilho lindo nas largas lagoas.

Éramos nós, água quente (+- 30 a 35°C) e a coragem de tirar os 3 casacos, luvas, meias, 2 calças, cachecol e encarar, de roupinha de banho, os 4m da mochila à piscina.

TSSSSSSSSSSSSS foi o barulho que fez quando entramos.

Isso tudo antes do café da manhã... Aguentem firmes porque o dia foi longo e imperdível.

Eu já disse o motivo pelo qual todos queriam raptar a Nena?

PANQUECAS no café da manhã!!! UAAAAAAAAAAAAAU! Enquanto os outros grupos comiam o que restou do pacote de pão de forma de ontem, nós nos deliciávamos com panquecas, marmelada, doce de leite, chocolate quente, chá e café!

É ou não é digna de ser sequestrada a nossa Nena? ;)

Não vou me estender nessa outra parte. Laguna verde aos pés de outro vulcão, deserto de Salvador Dali, raposas, fronteira tripla (Argentina, Bolívia e Chile) e mais um até breve aos nossos coleguinhas Toddynho (companheiros de aventura).

Agora estamos no Chile! Foi só cruzar a fronteira e o cascalho se transformou em asfalto. Mágica!
Estamos indo a San Pedro de Atacama, um oásis no meio do deserto mais seco do mundo - Deserto de Atacama (mais pra frente eu falo sobre ele).

O fim da estrada de terra significou o fim da vida de rei. De 1 dólar = 7 bolivianos, fomos pra 1 dólar = 600 pesos chilenos (obs: uma água é 900 pesos).

AAAAAAh! Que choque cultural. Já tinha esquecido que prestadores de serviço também sabem sorrir. Aqui tudo é caro e todos são solícitos e felizes.

Já pseudo adaptados, achamos um hostel por 6 mil pesos por pessoa. Uma bagatela pra realidade local.

Desmochilados, fomos à caça aos passeios pelo deserto, que, por sinal, eu sempre quis conhecer.

Os pacotes incluíam gêiseres, lagunas coloridas, vulcões, águas quentes e um salar chileno. Putz! Já vimos tudo! Será que não valeu a pena ter vindo pra cá?

Bom... A esperança tarda mas não falha. Reanimados depois do almoço, fechamos o passeio ao Vale da Lua por 6 mil pesos cada.

QUE LUGAR É ESSE?????????????

Não! Ow! É absurdamente diferente de tudo que já vimos! O maxilar, já cansado, não segurava mais o queixo.

Por uma trilha, éramos seguidos por dunas de um lado e um abismo rochoso do outro.

Pausa pra falar do Deserto de Atacama: É tão seco que os que morrem viram múmias. O sal, o ar seco, e o frio evitam a decomposição (é o único lugar do mundo onde se registrou umidade do ar 0). O céu do Atacama é tão límpido que permite ver a via Láctea em todo o seu esplendor. Para ter uma idéia, um consórcio de 9 países investiu uma grande soma de dinheiro para construir aqui o maior observatório astronômico do planeta. Suas lentes são capazes de focar um homem caminhando na superfície lunar.

Até que, finalmente, o dia chegava ao fim. Subimos outra duna para. de lá de cima, ver o sol de esconder e deixar as sombras dançarem pelo deserto. O céu foi pintado de alaranjado. Um horizonte inteiro alaranjado. É claro que eu chorei. Ninguém viu, mas chorei.

13º Dia - 11/2 - Cordilheira dos Andes

A expedição é mais ou menos assim:

- revezamos o banco do co-piloto e o de trás (porque o de trás do de trás é muito trash);
- em coro, dizemos quase a todo momento: UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAU! (o que faz a Nena rir sempre);
- todos querem roubar a Nena e levá-la pra casa;
- tomar banho não é uma opção e salvem os lencinhos umedecidos (gente que palavra feia...).

O roteiro humilde iniciava-se com a observação de um vulcão ativo (não em erupção) e suas fumarolas.

Depois, algumas lagunas com flamingos, que são mesmo cor-de-rosa.

Almoçamos por lá mesmo, onde eu tinha certeza que estava dentro de um quadro!

Vimos Lhamas, Alpacas, Ovelhas e Vicunhas.

A trilha segue rumo às alturas (ultrapassa os 4500m) pelo Pampa Siloli - deserto formado por cinzas vulcânicas - onde encontramos a surreal Arbol de Piedra (rocha esculpida pelo vento).

Por fim, a Laguna Colorada. Suas águas vermelhas mudam de intensidade de cor durante o dia pelos pigmentos de uma alga que habita a parte mais rasa.

Ah! Como passamos por tudo isso?

"Na 4x4 a gente zoa..."

Uma LandCruiser com tração nas 4 rodas que desafia a Cordilheira. O momento ápice do trajeto foi quando o Rubem (motorista) parou o carro, ligou a 4x4 e saiu da estradinha escalando as montanhas!

UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAU!

$: 30 bolivianos pra ingressar na reserva da Laguna Colorada e continuar o passeio amanhã (nenhuma agência inclui os boletos de entrada no pacote).